Numa tarde ensolarada de abril, meu filho chega ao nosso apartamento, com um sorriso de orelha a orelha, abre a porta e grita decidido: “Mãããeeee... já encomendei meu presente de aniversário”! Mas aquele comunicado me deu um calafrio... Medo do preço daquela felicidade! Decidi não perguntar qual seria o presente... Sorri consentindo! Continuei escrevendo, precisava enviar naquele momento para a imprensa um texto falando sobre o lançamento do programa de televisão de um de meus artistas.
O aniversário do Tiago é dia 03 de maio, ele não queria festa, queria um presente especial... Estava há dias pesquisando... Sempre foi o menino da pesquisa!
Terminei o texto, enviei por email, desliguei o computador e fui até o quarto dele, mas ele não estava. Tinha um bilhete: “Estou na cobertura acertando os detalhes da compra do presente”.
Cobertura? Nem sabia que havia cobertura no prédio. Passava poucas horas em casa, não conhecia meus vizinhos, achei estranho e resolvi esperar ele voltar para conversar. Meus olhos encontraram uma pilha de CDs no chão da sala a espera de ser catalogada e guardada. Uma ótima distração para não perceber o tempo passar e aguardar...
Tiago abre a porta, vem correndo e senta ao meu lado no chão da sala. Não tínhamos comprado sofá. Era o terceiro apartamento em que vivíamos em São Paulo e em cada um deles faltava alguma coisa. Sempre aquela sensação de tempo perdido, da felicidade adiada para o instante seguinte, de que não valia a pena gastar dinheiro comprando coisas, pois em meses voltaríamos para o Rio. Já estávamos a cinco anos no mesmo lugar e ainda faltavam coisas, pessoas, sentimentos, para encher aquela opção de cidade...
O presente era um gato! Um gato persa...
A moradora da cobertura vendia quatro gatinhos que haviam nascido há menos de um mês. Precisava esperar completar algumas vacinas e estar mais forte para poder sair de perto da mãe, uma enorme gata persa dourada.
E no dia 20 de abril de 2003, dia que o gatinho completou um mês de vida, ele veio morar em nosso apartamento e encher nossas vidas com seu ronronar único!
Ganhou o nome de Abou. “ABÚ” era a forma que o Tiago chamava tudo o que gostava até aprender as primeiras palavras e sugeri este nome.
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